Kulefuka

Kulefuka – Capítulo III

Kulefuka e a primeira chuva do ano de 1955

A Inês

A nossa heroína, era talvez nessa altura uma menina de dezasseis anos com um viver próximo do de outras adolescentes: Jogava basket na equipa local com o seu irmão, costurava na Singer familiar a maior parte dos seus vestidos depois de cortar as partes, servindo-se como modelo das peças daqueles que já não podia usar. Montava com subtileza, tinha autorização e possuia a energia necessária para cavalgar através das anharas durante horas e manejava com precisão o rifle 8mm da família – se bem que a caça tivesse cedo vindo a tornar-se a especialidade da Ivette, a mais nova das suas quatro irmãs. Continue la lecture

Kulefuka – Capítulo II

Kulefuka e a primeira chuva do ano de 1955

A família

A Inês morava na terceira forma aonde o branco não podia deixar de se fazer sentir do exterior, embora ali a predominância viesse duma cor vermelha de tonalidade escura.
O tijolo feito da terra suportava um telhado espesso; O zinco fora utilizado apenas na garagem e nas trazeiras sobre a imensa cozinha semi-circular.
Uma varanda profunda, igualmente coberta de capim, confortava um muro direito, talvez o menos distante do mar.
Ficavam protegidos por esse mesmo muro e dispostos em dois compartimentos distintos – tendo o maior deles e mais central, uma ligação com cada um dos outros e com a varanda – as caixas com os livros, o gramofone e o rádio a válvulas de última geração, o relógio de pendulo, três cabeças embalsamadas, as armas, o chicote suspenso, a máquina de costura, uma mesa com quatorze lugares e a cama de casal .
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Kulefuka – Capítulo I

 

Kulefuka e a primeira chuva do ano de 1955

Colónia

Algumas árvores frondosas de tronco fino, tornavam-se – no tempo das chuvas – floridas, vaidosas como raínhas. Outras, pelo contrário despidas, muito altas e encorpadas, podiam viver eternamente em harmonia ou sómente até ao dia da sua profanação.
Era uma região que retribuía generosamente os mais simples gestos com as dádivas do gado, com o óleo de palma, a mandioca, o milho, o feijão. Oferecia frutos carnudos, sumarentos com sabor a mel.
A pesca, a caça e alguns rituais, constituiam os últimos prazeres úteis autorizados aos seus nativos, permitindo-lhes durar, ritmados pelo clima e pela ventura… Continue la lecture

Kulefuka – Capítulo (IX)

 

 

Kulefuka depois da chuva

Land Rover Série II

Geralmente no fim da semana, a minha mãe levava ao forno as carnes que tinha escolhido préviamente, temperado, demolhado, cozido em grandes panelas antes de as revestir com a massa levedada.
Cada fatia era um regalo, sobretudo aquelas saboreadas em família no domingo, por exemplo depois do jogo. A minha mãe até consentia que o meu pai me deixasse beber um golo da sua Cuca fresquinha…
Mas haviam algumas sextas-feiras de determinadas alturas do ano, em que uma parte da dita iguaria, mal acabada de arrefecer, era embrulhada num pano branco, e desaparecia sem que ninguém me dissesse porquê; sendo igualmente muito misterioso o facto do meu pai não poder ser encontrado no dia seguinte – não fosse pela mesma razão. Continue la lecture